O transporte rodoviário de cargas é o coração da economia brasileira. E foi justamente para proteger esse setor que a ANTT criou a Tabela de Frete Mínimo, uma tentativa de garantir remuneração justa aos transportadores.

Mas, desde sua criação, a medida divide opiniões e gera debates intensos sobre seus efeitos econômicos, operacionais e jurídicos. Afinal: o frete mínimo protege ou prejudica quem transporta?

O Que é a Tabela de Frete Mínimo

Instituída após paralisações e pressões da categoria, a tabela define valores mínimos obrigatórios para o transporte de cargas, considerando fatores como:

  • Distância percorrida

  • Tipo de carga

  • Número de eixos

  • Custos operacionais

A proposta é evitar que motoristas autônomos e pequenas transportadoras aceitem fretes abaixo do custo real, assegurando sustentabilidade financeira ao setor.

Onde Está a Polêmica

Apesar da boa intenção, a aplicação da tabela gerou uma série de desafios:

  1. Aumento de custos — setores como o agronegócio e fertilizantes afirmam que os custos logísticos subiram até 35%, afetando a competitividade das operações.

  2. Desalinhamento com a realidade — o cálculo não considera variáveis como tempo de espera, retorno vazio ou particularidades regionais, o que torna a aplicação difícil no dia a dia.

  3. Fiscalização e insegurança jurídica — a ANTT passou a cruzar dados via MDF-e, e quem descumpre a tabela pode ser multado. Isso gerou um ambiente de incerteza entre embarcadores e transportadores.

  4. Responsabilidade desigual — enquanto transportadores são fiscalizados, embarcadores raramente são penalizados, mesmo quando pressionam por valores abaixo do piso mínimo.

 

O Problema do Preço Como Único Foco

A discussão sobre frete muitas vezes se resume a números. Porém, transporte é serviço, não apenas preço.
Ao escolher uma transportadora apenas pelo valor, empresas ignoram fatores essenciais como:

  • Segurança e integridade da carga

  • Cumprimento de prazos

  • Manutenção da frota e qualificação dos motoristas

  • Comunicação e suporte durante a operação

O resultado é previsível: mais atrasos, avarias, retrabalhos e prejuízos.

Caminhos para um Setor Mais Justo e Eficiente

Especialistas e entidades do transporte defendem uma revisão estrutural da tabela da ANTT, com base em:

  • Critérios mais próximos da realidade operacional

  • Inclusão dos embarcadores na responsabilização

  • Suspensão temporária das multas até ajustes legais

  • Incentivo à contratação por qualidade, não apenas por preço

 

Conclusão

A tabela de frete mínimo nasceu com o propósito de equilibrar o jogo — proteger quem transporta e evitar a desvalorização do serviço.
Mas, sem ajustes e diálogo entre transportadores, embarcadores e órgãos reguladores, ela corre o risco de se tornar um peso extra na logística brasileira.

No fim, a lição é clara: frete justo vai além da tabela — envolve confiança, qualidade e sustentabilidade.
Economizar no transporte pode custar caro.

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